SOBRE O
SUCESSO E A JUSTIÇA
Tenho lido nas redes sociais e até em artigo de
prestigiado jornalista global, por ocasião da morte de um cantor
sertanejo, a respeito dos valores culturais de nossa sociedade e
passei a refletir um pouco sobre os conceitos de “celebridade”,
“sucesso”, “justiça” e “merecimento”.
Quando o acidente que vitimou o artista sertanejo
Cristiano Araújo ganhou os jornais e mereceu ampla divulgação,
muitos questionaram sobre o sucesso da desditosa vítima e como
aquela notícia poderia se sobrepor a outras “mais importantes”
para os brasileiros, haja vista o momento de “sofrência” pelo
qual passamos.
Veio-me à mente o sucesso meteórico de Michel Teló e
a sua canção “Ai Se Eu Te Pego”.
Há poucos meses, estava eu na “Festa do Rei”, em
Amsterdam (o equivalente holandês ao nosso carnaval) quando, do alto
de um “trio elétrico”, um artista local entoou a canção de
Teló. Não se tratava, à evidência, de um cantor brasileiro. O
público, em uníssono, cantou a música de cabo a rabo, sem errar
uma estrofe (tudo bem que não são tantas estrofes assim),
emprestando-lhes o sotaque local.
Tem mérito Teló? Tem mérito Cristiano Araújo? O
que é mérito? O que é sucesso? O que é merecimento?
Historicamente, tem-se percebido que o sucesso é obtido
quando o produto do pensamento se ajusta aos valores prestigiados por
uma comunidade. Nesse sentido, Teló e seu 'hit' fazem jus ao prêmio
não porque sejam merecedores. Merecimento pouco tem a ver com
justiça, pois, caso essa premissa fosse verdadeira, professores
ganhariam mais do que o Faustão, p.ex..
A justiça consiste em fazer com que o sucesso sirva
como móvel para o desenvolvimento dos menos aquinhoados pelas
arbitrariedades naturais (um professor dificilmente saberia cantar
uma canção como 'Ai Se Eu Te Pego', assim como um talentoso pintor
italiano de afrescos). A Justiça, nesse caso, consiste em taxar mais
pesadamente os rendimentos auferidos com o êxito, promovendo a
"justiça distributiva", bem assim com o pagamento dos
direitos autorais aos proprietários da obra intelectual (que pode
ser o intérprete ou o compositor).
O sucesso advém, no mais das vezes, de arbitrariedades
naturais como, p.ex., nascer em família de melhor posição, ter
mais tempo para o estudo, ser bonito, saber cantar etc. Não se
igualam tais arbitrariedades aleatórias e naturais com a colocação
de freios no sucesso com elas obtido (o que seria intervenção
indevida na liberdade alheia), mas mediante medidas compensatórias
que favoreçam aos menos aquinhoados.
Michel Teló e Cristiano Araújo fazem jus ao prêmio da
forma mais legítima, porque seguiram as regras do jogo e ponto.
Pode-se criticar o valor intrínseco da obra musical, mas o êxito,
jamais, desde que as regras do jogo tenham sido seguidas à risca, de
forma ética e de acordo com o que convém ao gosto e ao anseio da
sociedade, o que é o caso.
É a sociedade quem dirá quem fará jus ao prêmio
(isso nada tem a ver com "merecimento moral", repito),
cabendo a justiça usar o fruto do sucesso para promover o bem geral.
Em síntese: SUCESSO TELÓ!, SUCESSO LUAN!, SUCESSO
ANITTA!, SUCESSO IVETE!
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