terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sucesso e Justiça

SOBRE O SUCESSO E A JUSTIÇA




Tenho lido nas redes sociais e até em artigo de prestigiado jornalista global, por ocasião da morte de um cantor sertanejo, a respeito dos valores culturais de nossa sociedade e passei a refletir um pouco sobre os conceitos de “celebridade”, “sucesso”, “justiça” e “merecimento”.
Quando o acidente que vitimou o artista sertanejo Cristiano Araújo ganhou os jornais e mereceu ampla divulgação, muitos questionaram sobre o sucesso da desditosa vítima e como aquela notícia poderia se sobrepor a outras “mais importantes” para os brasileiros, haja vista o momento de “sofrência” pelo qual passamos.
Veio-me à mente o sucesso meteórico de Michel Teló e a sua canção “Ai Se Eu Te Pego”.
Há poucos meses, estava eu na “Festa do Rei”, em Amsterdam (o equivalente holandês ao nosso carnaval) quando, do alto de um “trio elétrico”, um artista local entoou a canção de Teló. Não se tratava, à evidência, de um cantor brasileiro. O público, em uníssono, cantou a música de cabo a rabo, sem errar uma estrofe (tudo bem que não são tantas estrofes assim), emprestando-lhes o sotaque local.
Tem mérito Teló? Tem mérito Cristiano Araújo? O que é mérito? O que é sucesso? O que é merecimento?
Historicamente, tem-se percebido que o sucesso é obtido quando o produto do pensamento se ajusta aos valores prestigiados por uma comunidade. Nesse sentido, Teló e seu 'hit' fazem jus ao prêmio não porque sejam merecedores. Merecimento pouco tem a ver com justiça, pois, caso essa premissa fosse verdadeira, professores ganhariam mais do que o Faustão, p.ex..
A justiça consiste em fazer com que o sucesso sirva como móvel para o desenvolvimento dos menos aquinhoados pelas arbitrariedades naturais (um professor dificilmente saberia cantar uma canção como 'Ai Se Eu Te Pego', assim como um talentoso pintor italiano de afrescos). A Justiça, nesse caso, consiste em taxar mais pesadamente os rendimentos auferidos com o êxito, promovendo a "justiça distributiva", bem assim com o pagamento dos direitos autorais aos proprietários da obra intelectual (que pode ser o intérprete ou o compositor).
O sucesso advém, no mais das vezes, de arbitrariedades naturais como, p.ex., nascer em família de melhor posição, ter mais tempo para o estudo, ser bonito, saber cantar etc. Não se igualam tais arbitrariedades aleatórias e naturais com a colocação de freios no sucesso com elas obtido (o que seria intervenção indevida na liberdade alheia), mas mediante medidas compensatórias que favoreçam aos menos aquinhoados.
Michel Teló e Cristiano Araújo fazem jus ao prêmio da forma mais legítima, porque seguiram as regras do jogo e ponto. Pode-se criticar o valor intrínseco da obra musical, mas o êxito, jamais, desde que as regras do jogo tenham sido seguidas à risca, de forma ética e de acordo com o que convém ao gosto e ao anseio da sociedade, o que é o caso.
É a sociedade quem dirá quem fará jus ao prêmio (isso nada tem a ver com "merecimento moral", repito), cabendo a justiça usar o fruto do sucesso para promover o bem geral.

Em síntese: SUCESSO TELÓ!, SUCESSO LUAN!, SUCESSO ANITTA!, SUCESSO IVETE!

Nenhum comentário:

Postar um comentário