Nota: 8,0
Essa semana que passou, cético que estava, dediquei-me a escutar o CD de Cyndi Lauper
intitulado “To Memphis With Love”.
A primeira agradável surpresa que tive ao ouvir o
CD foi constatar que se trata de uma gravação ao vivo, o que não consta de
maneira explícita na capa do álbum.
Plateia pequena, como convém ao blues, mas bastante participativa.
Sem mais delongas, o CD inicia com uma versão
visceral de “Shattered Dreams”, de Lowell Fulson, dando a impressão inicial de
que se trata, de fato, de um CD do bom e velho blues, ao contrário de
alguns arranjos mais “modernosos” que contaminam a música de Roberto Johnson
& Cia.
A banda mostra um equilíbrio harmônico entre o
piano e a gaita, que nessa primeira canção quase não se faz ouvir, mas lá
está. Sem solos de guitarra ou
performances individuais grandiosas, a música agrada. Cyndi mostra-se confortável com o ritmo e ousa em não raras ornamentações arriscadas, mas competentes, calando os céticos que não
acreditavam pudesse a cantora de “Girls Just Wanna Have Fun” trilhar a senda da
música negra tradicional.
Na segunda música do CD, “I'm Just Your Fool”, the
Walter Jacobs, a voz de Lauper mostra-se um tanto débil diante da gaita, mas a
banda, de incontestável competência, segura bem a música até o fim.
Já em “Early In The Morning”, de Louis Jordam, Cyndi
assina uma interpretação digna de encômios.
A voz de Cyndi encaixa-se bem ao antigo Piano de R&B de Nova Orleans
e também ao competente guitarrista da banda (discretíssimo, é verdade, mas competente). A letra quase humorística da música também adequa-se ao timbre de voz da intérprete.
Na faixa “Romance In The Dark”, o vocal sexy e
quase lânguido de Cyndi aparece maravilhosamente bem. Belíssima intepretação.
As duas aparições de Jonny Lang no CD são
lastimáveis pela falta de empatia com o restante do "set list", embora o (ainda) jovem Lang trabalhe bem seus solos. Mas o CD perde muito de sua identidade com as
intepretações do chamado “Modern Eletric Blues”. Simplesmente dispensável, apesar de sempre
ser muito bem-vinda qualquer nova interpretação que se dê a “How Blue Can You
Get?”, pérola Jane Father e Leonard
Geoffrey Feather imortalizada na voz de B.B. King.
Em “Rollin’ and Tumblin’”, clássico de Muddy
Waters, Cyndi conta com a participação especial de Ann Peebles, e a versão está
magnífica, conquanto as vozes das duas intérpretes, em vários momentos, não se
encaixem tão bem assim.
Merece menção, por fim, a bela interpretação de “Mother
Earth”, de Peter Chatman e Lewis Simpkins.
O disco encerra com “Girl Just Wanna Have Fun”. E parece-me que a garota se divertiu. E eu também.
Recomendo a compra de um bom disco para ouvir,
intercalando blues de diversas espécies com uma interpretação que, se nem
sempre é perfeita, vale para registro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário