Esse soneto, que é belíssimo, nos convida, acho eu, a não sermos tão cruéis nos julgamentos contra as nossas próprias pessoas. É de Múcio Leão.
"Muitas vezes, a sós, na desventura,
Volvo a mim mesmo um longo olhar austero,
Um olhar que interroga... e considero
Os abismos de fogo da amargura.
Que deus poderá ser o deus severo,
Que fez cair sobre a minha alma impura
A noite do abandono e da tortura,
Em que desvairo e em que me desespero?
Que pecados trouxe eu das outras vidas?
De que faltas antigas cumpro agora
As penas tristes e descomedidas?
Que alma infeliz dentro em minha alma implora?
Em que velhas estrelas escondidas
Fui réu de crimes sem lembrança, outrora?"
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